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Anemoia


No tempo em que festejavam o meu aniversário 

Eu não era feliz apesar de todos estarem vivos

No antigo apartamento havia gritos e zangas que muito lamento

E rezei de joelhos aos pés da cama após a primeira comunhão (a cisma do crisma)

Um período seguido, sentida fé,  Perdida a fé, o brinquedo esquecido. 

Curtas as tramas, longo o tecido.   

 

[(Uma bola de pelo vomitada por uma gata preta 

Que paria atrás do sofá duma sala da (extinta) direcção 

O felino que me ensinou o tipo de amor que a mãe me nutre, 

A gata perante a cabeça dos filhos nados com amor 

Corpo devorado sem remissão por errada assumpção

Outra mãe preservando um filho torto numa crisálida 

Ansiedade de se atonar através de uma tez pálida 

Louva a Deus, congrega a comunidade, tout de suite)] 

 

O tempo impávido, sarcástico, caricatura, aquela criatura, 

Pois de agrura em agrura, de vela em vela, 

Não mais se entende os motivos dela Não mais se reconhece o objecto do negócio, 

Enquanto os aniversários são nivelados por um Inquieto e ansioso ócio, 

Uma energia dissipada com retorno negativo, 

E tudo se mostra antigo

Um diálogo de surdos que de tão peculiar faz a comunidade pasmar

Um movimento a configurar, um resultado a esperar

Tudo parênteses a desconsiderar por não dito, 

Inexistente, desconforme com o resistente.  

 

Hoje vivi, duro, perduro, ainda faço anos 

Morto caminhante, cavaleiro andante, tetraplegico da alma 

Reconhecido por perder a calma

Tenho o passado na algibeira e os fantasmas à minha beira

E hei-de sempre fazer as coisas à minha maneira 

Que é a força de quem tem um destino que não quer cumprir

Sem dentes de tempo para celebrar, sem ninguém para amar

Nem a ti poeta que te li um dia 

E imagino que com Maria, filha da Lavadeira, 

Terias vivido mais uns anos, mas nada diz se serias feliz 

Vejo a pequena a ingerir chocolates pelo mundo inteiro, 

O predito revólver do Mário lá para o fim

Oracular do mesmismo de também não saber o q há para mim.  

 

Saiba que o tempo em que festejam o nosso aniversário, 

Esse lento pode ser um calvário 

Uma still frame a imaginar engolir o canário  #

A tentar partir o espelho da subtil servitude

Fechado na gaiola da dolorosa falta de atitude  

Nessa irresponsividade, suposta causa mortis 

(Resulta que) 

Já sou mais velho e não apenas os dias se não somam, 

Mas os fantasmas que assumem seus lugares 

Que me olham em seus esgares

São tão banais como castanhas em pedaços de jornais,

Que voltam neste século que não alcançais. 

 

Que eu carrego o testemunho daquilo que não viste

 

E numa prosa cortada travestida em poesia,

Sonho inglório ao figurar ao que tu assististe,

Num tempo em que se não havia inventado uma palavra

Num dictionary of Obscure sorrows, 

Uma palavra na nova Stoa,

Anemoia

Para uma emoção antiga, celebrada

Ansiedade de não ter vivido e sofrido 

Outros tempos que tenham sido 

Outros que tenham tido e perdido

E indiferença para o meu existir.   

 

É, digo-te eu,  Ando sem andar suficientemente, 

Respiro sem viver realmente   

 

É, minto e finjo na visão de mim que me ofereço 

Numa grande promessa de promete que não aconteço.   

 

É, os timbres do piano que invejo, não os ouço, 

Antes vejo a beleza que nesta solitária quietude,

Sempre ha-de resultar de uma humana similitude.   

Virtude não há que me comova Existir há. 

Solto lágrimas para toda a estética que vós perdestes

E contudo aspiro a uma sincronicidade que o permita

Sem prescindir de ser ateu, anarquista, extremista e eremita. 

 

Discordo em dizer que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto. 

A década da inspiração vem a reduzir a quantidade 

De uma certa qualidade que prezamos,

Transformados, reinterpretados, alegados últimos moicanos. 

 

Somos entroncamentos de probabilidade a rir da realidade.   

Essa é a minha verdade. 

Isolada, solipsística, desencantada.

Sob o peso dos neutrões, tempos idos de H2, da vossas concentradas reuniões.  

Vossas mercês, incompreências, passem bem com as vossas decorrências. 

 

E fique eu obtuso na coerência que recuso. 

 

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  • Autor: Mera Gente (Seudónimo) (Offline Offline)
  • Publicado: 17 de agosto de 2019 a las 03:43
  • Comentario del autor sobre el poema: Plagiary action and how it is a not fake, but original, when its intended. Anemoia
  • Categoría: Carta
  • Lecturas: 19
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