PROCURA CONSTANTE

carminha nieves

Procuro na imensidão do pensamento o que me está a incomodar. Inquietude, marasmo, falta de incentivos, algo é.

Bem lá no fundo sei, mas não posso pedir mais. Por isso tento outra causa. Mas são passos perdidos nas lajes gastas do meu caminho.

É tão pouco! É um quase nada, mas não está nas minhas mãos consegui-lo

Enfim! Vamos pensar que ainda o vou conseguir. Difícil, quase impossível, mas é tão pouco!

Sem ter palavras exatas para o dizer, agonia a esperança. Talvez por engano meu pensei que era passageiro, mas não. A realidade aí está. E faz-me falta, é tão pouco, quase nada.

Devagar sem dar conta, coisas morrem. Desgastada por não poder ter o que deveria ter por direito, frustrada, encolhida, enrolada sobre mim, vegeto, neste meu canto.

Fingindo, a mim mesma mais endurece a doçura do meu sonho.  Como casa pintada, com um jardim florido, por dentro está gasta, quase vazia, muda sem sons de vida.

Não culpo ninguém, só o tempo. É tremendo lutar com todas as forças e maneiras, tentar estancar a hemorragia dele a passar, mas por muito que o coração doa, nunca o poderei parar.

Neste momento queria andar, passear sem vento, chuva, nem escolhos onde tropeçar.

Queria ainda a minha doce gatinha branca, que tanta falta me faz. A criança que fui, livre e inconsciente num mundo de fantasia.

Com lentidão me levanto, sem vontade de nada forço o corpo, mas quem força a alma?

Pergunto a mim mesma, “que queres?” Não sei. Estou cheia de tudo, nada me apetece.

Tristeza profunda de não ter o que desejo. Impotente, sem sabedoria para resolver o que não está bem.

Pranto seco no deserto árido do meu sentir. O vento fustiga, sede, por teto, as estrelas, sem rumo, fria, consciente, do nada, em que estou.

Deus meu, tenho carinho, mas que mais?

Pena infinita de alguém, talvez, pranto seco na alma, preciso de mais. Uma alegria? Qual? Nunca poderei em verdade ser franca e gritar o porquê desta falta de ti.

O meu silêncio é por respeito, outros há, mas são de culpa e dos outros.

Desembrulhei o rebuçado, e é amargo. Que fazer? Deitá-lo fora, não. Aceitá-lo esperar que outro venha e seja doce.

Tenho tantas saudades de mim! Quando tinha instantes plenos de vida!

No eco longínquo, para além dos montes e mares, no infinito resguardado de olhares, até lá vou de quando em vez. Abraços dou, afagos tenho, ternura em olhos que se fecharam para sempre, sou feliz. E a saudade de mim por momentos desaparece, mas volto e sou cicatriz de sofrimento, de ter esta maneira de sentir.

Se soubessem o que é ter mais vida interior que física, ninguém me criticava.

Ao olhar dos outros tenho tudo para ser feliz. Um pouco de inveja sinto neles, mas o meu interior é imenso. O pensamento ultrapassa tudo e todos. Nem eu própria compreendo, como posso ser tão diferente.

Talvez acredite em Deus mais do que é normal, mas sou assim. Tenho que tentar aceitar e viver o meu mundo, fazendo de conta que sou uma mais entre todos.

Uns braços invisíveis queria ter, trespassar tudo para ir buscar tudo o que quero, guardar nas mãos, tudo o que perdi e que me fariam em plenitude feliz.

Nem tudo o que se tem faz falta, mas o que não temos mais falta faz.

O que escrevo nem todos compreendem, mas no que não escrevi está a essência do meu pranto seco.

Porto, 6 de Junho de 2017

Carminha Nieves

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