carminha nieves

A VIDA É MUITO E NADA

                         

 

Tudo acaba. Devagar, sem pensarmos, ficamos sem coisas, que julgávamos ser parte da nossa vida.

Já há muito tempo, fui dando conta que não temos nada, a não ser nos próprios.

O que nos rodeia, rompe-se, perde a cor brilho, como se uma traça gigante e invisível desfizesse tudo.

Repomos outras novas em seu lugar, mas não são iguais. O que acabou, acabou e nunca voltaram.

Só somos nós, que também acabamos, por ser uma lembrança para alguns bons, para outros indiferente e indigesta para muitos.

Somos como o dia da Mãe, do Pai, da mulher, de tudo, somente um dia e nada mais.

Somos a paisagem que desaparece quando nos afastamos, somos o vento que passa, o poema que se esqueceu, algo que fez  falta, a mão que segurou alguém para não cair. Somos o ventre que gerou, mas nunca temos direitos, somos o trapo velho que deixamos cair no pátio do vizinho de baixo e que vai para o lixo.

A ilusão também acaba, quando damos uma revisão ao deve e haver do que fizemos. È sempre prejuízo.

Nunca somos pagos, dívidas eternas que nos prejudicam. Somos o que precisam, mas nunca o que precisamos.

Somos o dar, sem receber. Não devia ser assim, mas não sabemos enquanto não precisamos que por justiça recebamos o que nos é devido.

Melhor seria não pensar, ser indiferente, oca, fria e egoísta.

Pisar firme e calcar tudo e todos. Passar sem ver pela miséria dos outros, sofrimento, carências, só andar de cabeça erguida sem olhar. Sermos reis, poderosos, na mesquinhez da frieza do nosso ego.

Somente existe, a paga, que o destino nos dá. Mais tarde ou mais cedo, pagamos com juros muito altos o mal que fazemos.

Não me lembro de ninguém que me tenha prejudicado que não tenha dado contas e que contas pelo que me fizeram.

Não sinto alegria, mas a cada um o que merece.

A vida somos nós, ela acaba e junto acabamos também. Passagem efémera, se tivéssemos presente sempre o insignificante que somos, outra maneira de viver teríamos.

Por muito larga que seja a estrada, se andamos em contra mão, esbarramos com alguém.

Podemos não morrer, mas iguais não ficamos. No nosso corpo ficam marcas para sempre e o remorso também e este é terrível.

Nascer é igual para todos, mas não somos iguais. Alguns já trazem o sofrimento de não poderem andar, com doenças tremendas, outros perfeitos fisicamente trazem a alma doente.

O princípio pode ser bom, o fim tremendo. Ou o contrário. Reflectir, faz bem. Muito se evitava se nos cingíssemos à insignificância do que somos

O orgulho é bom quando o temos por sermos rectos humanos e humildes.

O prazer também, se vem do sentido do dever cumprido. Com honestidade e humildade sejamos simplesmente iguais a todos, com defeitos e virtudes. Um tremor de terra pode arrasar centenas de casas por pequeno que seja, se não tiverem bons alicerces. Um grande pode não arrasar nada se a base for solida.

Está em nossas mãos alicerçarmos, as bases das nossas vidas, nunca nos esqueçamos, que por muita beleza, riqueza, poder, o nosso interior pode estar deteriorado e somos derrubados por um sopro de má sorte.

Tentemos ser a fortaleza onde se podem refugiar os mais carentes seja qual for as suas carências.

Porto, 3 de Julho de 2014

Carminha Nieves