CLAUDIO S. SAMPAIO

Dia de Reis

Viemos de longe, minha criança

Das províncias de montes altivos

E vales gloriosos. Orvalhados  

Pela luz de Aldebarã, viemos

Dos rumos de onde chegavam

(Num tempo esquecido)

As antigas comitivas.

Ali estabelecemos o trono

À sombra do lobo e da serpente.

Ali se estabeleceram as tribos

Quando nobres cantavam poemas

Para suas mulheres

E pastores descansavam seus rebanhos

Junto às fontes do deserto

Valentes relatavam proezas

Às roda do fogo, enquanto ao longe

Resguardados sob torres de âmbar

Monges recitavam preces

Pelos que rumavam para as guerras

E pelos peregrinos da jornada

Viemos de longe, fustigados

Pelos ventos do equinócio e guiados

Pelo fulgor da estrela. Os pergaminhos

Predisseram, e não a voz de um sábio

Eleito pelos homens. Escrituras

De um tempo sagrado, suas memórias

Contavam de um Rei

De seus palácios deslumbrantes

E da sagrada linhagem que marcou a epopeia

E a trajetória de um povo que travava suas batalhas

Sob a égide de um Deus

Guerreiros golpearam com lanças

Os flancos dos gigantes

E trespassaram com suas flechas

A fúria dos nômades

E dos soberanos das estepes

A este povo e a este Rei

Chegamos, minha criança

Alijados de broquéis e espadas

Munidos viemos de sonhos e esperanças

Trazemos dor e prece

De dinastias que se levantam

E que se curvam, submissas

É de boa vontade e com as ânsias abrandadas

Que as oferendas trazemos

É, de fato, este Menino

O que acendeu na noite a luz da estrela

E o canto dos arautos com o seu vagido?

Riquezas e honras

São pouco ante a nobreza

Deste que se levanta

Formoso como um leão ao meio dia.